Fragmentos de Soux
"Não sou um homem letrado. Perdi meus pais aos vinte e alguns anos, e mesmo então já vivia por minha conta e esforço. Fui expulso de duas escolas, preso uma vez sob acusação de desobediência, e algo em minha vida causava comentários rejeitosos nos cantos dos restaurantes - aliás, parecia divertido à velharada tratar-me como pária, enquanto eu tentava ser só mais um a viver seus momentos... Por isso parti. E para a quina mais improvável, mais desconhecida. Entre a Ilha Funchal e o litoral do Marrocos, um pequeno arquipélago de nome Nabori, inabitado pelos colonizadores (razões obviamente econômicas, já que o espaço para o plantio em escala não havia)... Ah, o tempo. Resolvi cultivar e guardar este relato sobre minha história. Talvez valha a alguém menos desesperançado do que eu.
~
Um grupo de frequentadores do Sukkubus (um bar de encontros liberais) vinha noite após noite conduzindo discussões acaloradas sobre a hipocrisia dos europeus, o capitalismo emburrecedor do pós-guerra e a paixão boêmia que nos nutria. Eu não tenho estômago pra esse tipo de remoer que não leva a solução alguma. Entretanto, ontem algo diferente nos ocorreu... quando à meia-noite, uma mulher de longas e castanhas madeixas foi ao clube. Primeira visita, e seu tom sombrio arrepiou espinhas num raio de cem metros.
- Há algo em vocês que merece viver, e há algo que merece morrer. Quem está disposto a jogar parte de si no lixo e começar uma nova vida, longe do gentio frio da Europa? - perguntou, intrigante, raptando minha atenção."
fim de fragmento.
0 Comments:
Postar um comentário
<< Home