Sorver amor
Noite estrelada lá fora... sou agitação de dedos diante da tela, profunda, que invadiu o lar. Há algo diferente em mim. Uma certa falta de brilho, um certo desespero por deslumbre, algo que carece de um rompante extasiado. Há dois metros da sacada, inspiro o ar frio e expiro fumaça. O gosto de uma vida real, concreta e tangível percorre toda a língua e amorna meu olhar... meu olhar outrora tão ficcional, tão arteiro.
Sem estrelas sob este teto, apenas o pano azul contrastando com o fantasma que voa sem sair da cadeira. Um relance de lembrança me põe a divagar... há muitos fantasmas hoje em dia, perambulando nas frestas do mundo vigiado. Você gosta de ser um fantasma? Diz pra mim... enquanto espirais espectrais evadem o bastão de tabaco que ostento entre os lábios. Seria minha alma evaporando? Seria meu desejo de ser em ti, decolando para a atmosfera, indo ao teu encontro?
Ah, poesia. Não faça este charme, que não te resisto... por muito pouco te amo. Por muito pouco te quero ali e aqui, compartilhando meu colchão e meus relatos. Servindo de sabão sob o chuveiro incessante dos dias... torrente de uma vida úmida, ardida e indescritível, que só pelo meu choro sabes que sorvo, obstinado pela magia da tua doçura.
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